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segunda-feira, 25 de junho de 2012

O que é Acolhimento?

O tema parece batido, o conceito talvez possa parecer consolidado. Mas, foi daí que eu parti para a abordagem das questões relacionadas com esta temática. Sempre  faço estas perguntas mais conceituais no início de um novo assunto de interesse, herança da forma como fui formado até agora. 
No caso específico do Acolhimento, fui buscar inicialmente os teóricos e/ou estudiosos, o primeiro que vi foi do Livro Dilemas e Desafios da Gestão Municipal do SUS, de Jorge Solla, e lá vi:

O "acolhimento" significa a humanização do atendimento, o que pressupõe a garantia de acesso a todas as pessoas. Diz respeito, ainda, à escuta de problemas de saúde do usuário, de forma qualificada, dando-lhe sempre uma resposta positiva e responsabilizando-se pela resolução do seu problema. Por conseqüência, o Acolhimento deve garantir a resolubilidade que é o objetivo final do trabalho em saúde, resolver efetivamente o problema do usuário. A responsabilização para com o problema de saúde vai além do atendimento propriamente dito, diz respeito também ao vínculo necessário entre o serviço e a população usuária. (SOLLA: 2005; p.495)

A associação entre humanização e acolhimento pra mim está bem consolidada. Mas, parei em um aspecto da abordagem conceitual acima, e me surgiu a primeira pergunta quando tentei imaginar este conceito na prática dos serviços de saúde: Onde começa e onde termina o Acolhimento? Sim, por que para os profissionais de uma rede que ainda não é rede, esta parece ser uma questão prática fundamental: começa pela escuta qualificada passa pela interação bem sucedida permeada pelo vínculo, pela confiança mútua, pela empatia, pela relação e chega na solução da demanda trazida pelo usuário. Ops, solução? "dando sempre uma resposta positiva e responsabilizando-se pela resolução do problema", e aqui entrou água, como vou me responsabilizar por algo que não está sempre no meu alcance? Agora aqui gerou frustração. Fui então ver se um outro conceito fosse suficientemente legítimo as realidades dos serviços em que vivo.

O acolhimento é compreendido como uma ferramenta que estrutura a relação entre a equipe e a população e é definido por sua capacidade de solidariedade de uma equipe com as demandas do usuário, o que resulta numa relação ética e humanizada. Portanto não se limita apenas ao ato de receber, mas se compõe de uma seqüência de atos e modos que fazem parte do processo de trabalho, sendo um momento de escuta e promoção do direito à saúde como um direito de cidadania. (UCHOA et al.: 2008; p.71)

Este conceito me pareceu mais confortável. Coloca o acolhimento numa posição intermediária no processo de trabalho e a resolutividade passa a ser uma possibilidade diante do direito à saúde e não uma "imposição" do demandante ao profissional de saúde, que por sinal passa a ser um agente de busca pelo direito à saúde tanto quanto o usuário. O que pressupõe que assim se sinta para que possa acolher. E será que é assim que se sentem os trabalhadores em saúde? Agora aqui gerou dúvida. Mas, adiante fui lendo outras referências buscando explicações para a questões do acolhimento que “tem produzido sofrimento e precarização da vida não só dos usuários, mas também dos profissionais de saúde”.
No caderno sobre Acolhimento à demanda espontânea, tem uma frase que parece ser confortante e desafiadora:

"Existem várias definições de acolhimento, tanto nos dicionários quanto em setores como a
saúde. A existência de várias definições revela os múltiplos sentidos e significados atribuídos a
esse termo, de maneira legítima, como pretensões de verdade. Ou seja, o mais importante não
é a busca pela definição correta ou verdadeira de acolhimento, mas a clareza e explicitação
da noção de acolhimento que é adotada ou assumida situacionalmente por atores concretos,
revelando perspectivas e intencionalidades. Nesse sentido, poderíamos dizer, genericamente,
que o acolhimento é uma prática presente em todas as relações de cuidado, nos encontros reais
entre trabalhadores de saúde e usuários, nos atos de receber e escutar as pessoas, podendo
acontecer de formas variadas (“há acolhimentos e acolhimentos”). Em outras palavras, ele não
é, a priori, algo bom ou ruim, mas sim uma prática constitutiva das relações de cuidado. Sendo
assim, em vez (ou além) de perguntar se, em determinado serviço, há ou não acolhimento, talvez
seja mais apropriado analisar como ele se dá. O acolhimento se revela menos no discurso sobre
ele do que nas práticas concretas. Partindo dessa perspectiva, podemos pensar em modos de
acolher a demanda espontânea que chega às unidades de atenção básica."

Assim parece mais interessante começar. Agora aqui gerou o desafio. E foi assim que pensei que deveria ser o começo do projeto e é assim que começaremos. Convido vocês a lutarem e compartilharem das experiências conceituais e concretas em torno deste tema. Relatem aqui como é o acolhimento em sua prática profissional? Qual(is) o(s) modelo(s) operante(s), os processos constituintes, as modulações conceituais e as implicações do Acolhimento (com a classificação de risco ou não) desenvolvidas em Unidades de Saúde da Família? Vamos nos falando aqui e ali pra ver onde isso possa nos levar!?

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